Ai de ti
Ai de quem?
Eu bem que te esqueci
Adormeci, mas agora vi
Seus tombos e escombros.
Com bocas limpas de palavras
Rezamos com as feridas
Para tudo voltar
De manhã cedinho
Na órbita do esperar.
Quando nada faz sentido
É hora de não morrer,
Construir na mentira
Visões de um mundo aberto.
Então cantemos!
Sempre cantaremos
Na estafa dos dias mesmos
Mesmas rezas e noites
Só o cantar é lágrima
Por abundância de vida.
Em nenhum mistério acredito
(Que não seja o de cantar)
O céu e os cofres da antemanhã
Alimentam seus segredos
E os ventres que te levam ao degredo.
Ai de teu corpo entorpecido
Pela dor da fome
Que não te deixa acordar.
Parte sem ver - os olhos
Indiferentes que te cercaram.
Panelas dóceis recebem a carne
Agora vamos comer
Pedaços de carne escrava,
Agora vamos cantar
P´ra não calar e morrer.