sábado, 27 de março de 2010

Leve desamparo de um doce sentimento

Deixo-me solta e de repente o mundo fica mais leve com o meu coração a flutuar por aí perdido num balão de ar quente. Viro louca desmiolada, apaixonada por ti, o meu corpo levita ondulando finalmente até à saída do emaranhado labirinto que nos desconjuga o ser, desembaraço os nós da razão e de alma dada derrubamos os muros que desunem as cores da nossa pele. Os dias que nada mudam, correm apressados na ânsia de te encontrarem nos lampiões acesos pela noite fora, por onde fugimos e corremos soltos, de volta para o amparo dos braços que a distância não desenlaçou, rasgando o que nos discrimina e aparta convicto do supostamente correcto. Mergulho no fundo do teu olhar e contemplo-te arrebatada pelo encanto que preservas nos mundos que habitam dentro de ti. Ficamos ambos laçados pairando acima das nuvens e o chão na pontinha dos nossos pés. Os gestos desamarram-se e o teu coração trespassa-me o peito, acarinhando o meu batimento cardíaco, já por si só acelerado. Digo o quanto te quero bem num sussurro silencioso, que me rasga a alma num abismo vazio, onde me encho de ti reconfortando-te no mais fundo de mim. Batalhamos contra nós mesmos, inimigos engenhosos sem receio da derrota, esgotamos os estratagemas ilusórios e acabamos rendidos. Esqueço o medo, deixo-te entrar docemente enquanto me acalmas um pouco no meio da tempestade, esperas que o meu corpo aquiete devagar e vais prolongando a melodia dos teus lábios e o mel da tua pele contrastando com a minha. Haverá sempre uma noite de chuva e vendavais milagrosos repletos de magia que nos devolvam o aconchego do abraço que nos pertence. Até o dia nascer e a noite correr desamparada de volta para o negrume obscuro, enquanto os raios de sol nos vão banhando o rosto atulhando-nos de razão, e a nossa sombra a fugir difusa pelo branco das paredes e de repente já lúcida vejo-te a escorrer-me pelos dedos deixando-me a balançar carecida de ti na corda da solidão.