sábado, 27 de março de 2010

O nosso amor mudo

Continuamos a levar a cabo uma relação insana, feita de marés que mudam com um simples sopro, onde o ódio e o amor não se suportam cruzando-se num vai e vem desenfreado. Andamos os dois a agonizar nesta ausência de apatia sentimental, numa peça de teatro enfadonha e intragável cheia de actos falhados e personagens repetidas que nunca saem de cena, num cenário que já cheira a mofo. Mimetizamos os gestos, os sorrisos, as lágrimas, as palavras e principalmente os silêncios. Não nos entendemos, nem percebemos o que cai nas entrelinhas. Enchemo-nos de ofensas brancas, como as mentiras, e manejamos o tempo que não temos com a destreza de quem pega numa espada demasiado afiada. Não me digas nada de nada, já não suporto a algazarra silenciosa que nos separa, o nosso emudecimento ainda me grita no fundo da alma que já não te tem como aconchego. Não te dispas mais de mim, não te quero saber de cor como quem aprende a tabuada, ensina-me antes a filosofia do teu ser e deixemos as ciências exactas que o nosso ‘bem-querer’ não tem. Já me cansa este puxa e empurra, esta brincadeira de criança a ver quem cai primeiro no jogo da corda e doem-me os joelhos à muito esfarelados das vezes que o chão foi a minha morada. Continuemos então este ‘mono diálogo’ em que transformamos o nosso amor e não te entristeças meu príncipe, porque este amor que nos une, -para lá do nosso entendimento- é daqueles que viverá para sempre, mas só porque não tem onde cair morto.