sábado, 27 de março de 2010

O que nos une

Somos amigos, daqueles que só se encontram uma vez na vida. Amigos do peito, da alma, de cada centímetro quadrado dos nossos corpos que tantas vezes são apenas um. Não somos daqueles amigos de infância que cresceram lado a lado, nem jogamos à apanhada, às escondidinhas ou a qualquer outra coisa juntos quando éramos ainda meio tostão de gente. Não fingimos que casámos quando pensávamos que o casamento é que unia as pessoas para sempre nem demos o nosso primeiro beijo um ao outro. Somos de mundos diferentes eu da terra dos infantários de meninos chiques, sapatinhos de vela e pólos às risquinhas, tu dos meninos descalços, de calças rotas e t-shirt suja a jogar à bola na rua (e talvez bem mais felizes). Mas somos amigos, daqueles que se conhecem sem saberem bem ao certo como nem porquê. Brincamos juntos depois de termos mais de um metro de altura, e aprendemos as diferenças que nos aliciavam. Vamos deixando os dias correrem enquanto eu até te acho piada e tu até tens paciência para jogar ao quarto escuro. Queremo-nos bem, e desejamo-nos de braços caídos já sem força para lutar contra o íman que nos cerca os movimentos e nos arrasta pelo chão que nos une. Somos amigos diferentes, daqueles que se completam, nem sempre nos entendemos, quase nunca concordamos e raramente temos a mesma opinião, mas cuidamo-nos como se o batimento do nosso coração depende-se do sorriso sincero do outro. (...) E muitas vezes depende mesmo.