sábado, 27 de março de 2010

Quando o tempo (não) passa

Vou olhando as luzes da cidade, que brilham mais do que as estrelas, cegam-nos os olhos e ferem-nos a mente. Enquanto o tempo te vai esbatendo contra a tela vazia que hoje se veste de negro e te absorve até desapareceres. Tento não cair neste abismo que a cada segundo se abre mais entre nós, tento não ceder a tentação do desejo de te alcançar enquanto me escapas entre os dedos. Tento simplesmente deixar-me ir. Não sentir, não pensar, não agir, não ceder. Deixo de viver nestas horas sem fim, nestas horas sem vida que não se deixam passar nem vencer da mesma forma que eu me deixo ser arrastada por esta não existência. Assim, hoje sou o nada e o tudo que vagueia entre o claro e o escuro em que a vida se pinta. E não sobrevivo nem morro quando o abismo me engole numa queda vertiginosa. Porque não se pode matar o que já morreu.