sábado, 27 de março de 2010

Resta-me sonhar-te

Tinha tanto para te dizer. Mil e uma perguntas ansiosas por aconchegos de palavras. Um oceano repleto de gestos e frases entaladas no fundo do vazio que me deixas-te, ávidas de um pouco de ti. Mas depois de passar noites atrás de noites em claro, desejando o teu corpo a abraçar o meu, percebi que não te ausentaste só da minha pele, mas também de ti mesmo, e as palavras não servem de nada para quem não as quer ouvir. A tua alma ficou tão surda que emudeceu a minha. Dantes, a distância não passava de uns meros centímetros entre os meus lábios e os teus, bastava-me inspirar fundo para te encontrar no ar. É irónico como me encheste a vida de luz, quem diria que seria eu a navegar sem rumo perante a tua ausência. Tu que foste o cavaleiro andante no meu conto de fadas, quando percebi que o amor não existia sem provas e tu me enchias os dias com gestos inequívocos da existência do teu. Nunca vou esquecer o teu olhar de menino crescido, onde eu descansava os meus medos, afogava os meus fantasmas e cobria-me com um manto de felicidade cristalina sem prazo de validade. Esbarramo-nos sem pré-aviso, como dois estranhos que caminham em caminhos opostos do mesmo passeio e de repente encontram um no outro a sua casa. Agora que seguiste as placas para destinos só teus, ficou em mim o frio do teu afastamento precoce. O meu caminho transformou-se num deserto árido do toque seguro das tuas mãos, do cheiro perfumado do teu pescoço, da tua boca a calar a minha, das tuas carícias meigas enquanto eu adormecia e me escondia do mundo no abrigo do teu abraço apertado. Hoje, a minha epiderme sobrevive desidratada com sede da tua e o meu olhar vagueia perdido por já não viver dentro do teu. Habituaste-te a ter tudo da vida, a tua existência sempre foi povoada de chegadas e partidas desenfreadas, pensei que tinhas desfeito as malas e que te iria ver instalado nos meus dias, sentado no chão da sala ou na varanda a fumar sempre mais um cigarro. Parece que me enganei. Deixaste-me presa por um fio como um iô-iô e o meu coração ao dependuro, no balanço das ondas do mar que me molham o rosto. Fazes-me falta. A tua imagem assalta-me insaciavelmente em memórias perdidas de um tempo longínquo, fingindo-se de tão presente, parecendo que foste tu há segundos, a pegar-me no colo, a aconchegar-me os cobertores e beijar-me em tom de ‘Boa noite’. Os sonhos concretizam-se, sabias? E tu já foste a minha perfeita e idílica realidade. É tão incrivelmente fácil sonhar-te… Por isso, faço de ti novamente o meu principezinho e de mim a tua princesa, na nossa história de encantar. Deixo o tempo correr devagar para não te sentir partir antes do ‘para sempre’, e não fujo quando batem as doze badaladas, porque há muito que te entreguei o coração e ele encaixou perfeitamente no teu.