terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Às vezes acordo com uma vontade enorme de apagar tudo. Com uma culpa gigante da minha infelicidade e da tua também. Construo e destruo ilusões, acabo sempre me lamentando pelos inesgotáveis desafetos. Minha sede de tudo é tanta que às vezes acabo sem nada, toda destruída, sem amanhã nem depois. Me permito por dias me esquecer um pouco. Preciso me poupar de mim mesma pra que tudo siga bem na medida do possível, ainda que pareça impossível seguir. Quero cessar meus encantos por enquanto. Preciso de um pouco de paz, sem entregas e perdas. Essa minha vontade de ir embora é a mais pura fragilidade de quem não quer encarar o real. E dói. Penso tanto nas pessoas, escrevo cartas pra ninguém, bebo e fico paralisada em frente a janela. O telefone mudo, um silêncio insuportável nos tímpanos e uma lembrança maçante no peito. Não entendo nada e quero mais é dormir pra esquecer, acordar no dia seguinte e me atolar numa distração qualquer pra que tudo pareça estar bem mas não, não está. Não posso ficar presa nessa ausência de compreensão. Ausência de tudo o que me conforte. Estou completamente sóbria e nem um pouco calma. Sei que estou patética e dolorida. O importante é jogar as cinzas no lixo, tomar um banho e colocar cafeína na garganta. Preciso recomeçar a todo instante. Jogar o cansaço ralo abaixo e me convencer que logo o tempo desloca esse desespero.